quinta-feira, 18 de junho de 2009

Protesto (Daniela Costa)




Em um país, onde civis são mortos constantemente por traficantes que já se autodenominam como um poder paralelo, e que mesmo diante disto, um governador diz que está tudo sob controle, que a morte de uma, duas, três pessoas nestas condições é algo atípico...
Onde pessoas passam horas nas filas dos postos de saúde, para, quando atendidas, serem maltratadas, e mesmo assim, terem que aceitar que a classe exija a redução de sua carga horária de oito para seis horas, sendo que, os salários destes funcionários saem do nosso bolso...
Onde o presidente do Senado e o próprio presidente do Brasil, criticam o denuncismo da casa e da própria mídia, alegando que isto desmoraliza a instituição, ou seja, que o melhor é deixar que a podridão fique encoberta...
Onde utiliza-se dinheiro público para bonificar políticos que já ganham mais do que o suficiente para, geralmente, não fazerem nada pela sociedade...
Onde o preconceito é apenas camuflado e na primeira oportunidade, bombas são lançadas em manifestantes gays, e um dos participantes, é morto por espancamento...
Onde faz-se necessário fazer uso de liminar, para que, em eventos como o Fashion Week, ocorra a participação de um número maior de modelos negros.
Onde lançam-se leis, como a Lei Seca, que já nascem com prazo de validade, pois na prática, por falta de fiscalização, não são aplicadas.
Onde o cidadão, além de pagar horrores de impostos, ao estacionar o seu carro, também é coagido a pagar taxas extras para os flanelinhas, senão...
Onde os bandidos ficam soltos, e o povo, preso dentro de suas casas por falta de segurança...
Onde, em pleno século vinte e um, e em um país rico, com descoberta recente até mesmo de reservas de petróleo na costa brasileira, milhares de pessoas continuam morrendo de fome, sede, de descaso!
Em um país, onde a liberdade de expressão foi conquistada às custas de sangue...
Onde o jornalismo levou décadas para aproximar-se da imparcialidade. Onde profissionais da área de comunicação dão duro para saber escrever bem, falar bem, comunicar-se bem, fazer-se entender expressando objetivamente suas idéias, ser muito bem informado, ter um senso crítico aguçado, ter conhecimentos gerais sobre tudo e todos, buscando sim, denunciar os desmandos daqueles que se acham acima da lei.
Pois bem, é neste país, onde muita coisa precisa ser consertada e modificada urgentemente, que o Supremo Tribunal Federal decidiu, na última quarta feira, acabar com a obrigatoriedade do diploma universitário para o exercício do jornalismo. “A exigência do diploma para jornalistas fere a liberdade de expressão, um direito garantido pela Constituição”. O relator do processo, Ministro Gilmar Mendes, afirmou que: “Em se tratando de jornalismo, atividade umbilicalmente ligada às liberdades de expressão e de informação, o Estado não está legitimado a estabelecer condicionamentos e restrições quanto ao acesso à profissão e respectivo exercício profissional”.
Os Ministros também defenderam que não é necessário ter conhecimento técnico para exercer a profissão e que o diploma não afasta os maus profissionais. “O curso de jornalismo, portanto, não garante eliminação das distorções e dos danos recorrentes do mau exercício da profissão, que são atribuídos a deficiências de caráter, de retidão e ética”, disse o ministro Cezar Peluso.
Apenas um ministro, Marco Aurélio de Mello, foi contra a decisão, alegando que o jornalista deve ter uma formação básica que viabilize a prática da atividade profissional.
Creio que, talvez, em nosso país, ainda não se tenha a devida noção sobre a importância da profissão do jornalista. Com certeza, a distorção de caráter, independe da profissão, mas a ética e o profissionalismo característicos de cada área, não!
Acredito até que deveríamos ter faculdade que ensinasse aos políticos a ter moral. A gerir com honestidade o dinheiro do povo e a não se esquecerem que eles são nossos representantes. E mais, “deveria ser lei”, a apresentação de atestado de bons antecedentes de qualquer candidato a cargo público. Não seria fundamental para modificar este cenário de corrupção?!
Mas, dentre tantas questões relevantes, o diploma de jornalista é a grande preocupação do senado!
O fato de o estudante de jornalismo passar quatro anos preparando-se, adquirindo informação, conhecimento, técnica, prática, conhecendo a realidade da profissão, gastando tempo, dinheiro e dedicação, nada disso foi levado em conta. Devo concordar que qualquer um pode comunicar-se, mas fazer comunicação visando o bem estar social e tendo consciência das consequências que cada notícia pode provocar, isto, é para poucos!
Mas não se desesperem. Ainda há esperança para os futuros jornalistas que realmente acreditam e valorizam a profissão. A Federação Nacional dos Jornalistas não concordou com esta decisão, no mínimo, infeliz. “A não exigência do diploma é um golpe imenso na categoria no Brasil”, disse Sérgio Murillo, presidente da Fenaj.
O diretor da Associação Nacional de Jornais, ANJ, Paulo Tonet Camargo, afirmou que as empresas vão continuar exigindo o diploma. “A grande massa dos trabalhadores dos meios de comunicação tem formação superior de jornalismo e vai continuar tendo. Essa situação não vai se alterar. Em termos de emprego e contratação, não vejo alteração”.
E nós, estudantes de jornalismo, esperamos que o governo dê atenção às necessidades básicas dos cidadãos e que não promova um retrocesso e uma desqualificação, no que, a quarenta anos, têm contribuído para a execução do bom jornalismo no Brasil.

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