quinta-feira, 2 de abril de 2009

Cinco Centavos (Daniela Costa)


Outro dia passei por uma situação inédita, e que fez-me refletir sobre as adversidades, a que nós, seres humanos, estamos sujeitos. Ao sair por volta das 22h30min da faculdade, acelerei o passo para não perder o tão esperado ônibus. Nesta semana em específico, posso dizer que os ânimos estavam um pouco exaltados na sala de aula. Tínhamos cinco provas, em apenas três dias! Após uma hora e meia de exame, confesso que saí meio desnorteada da faculdade. Quando cheguei ao ponto, para minha surpresa, ao retirar o dinheiro da bolsa para pagar a passagem, notei que estavam faltando benditos cinco centavos!
Não possuo o hábito de levar muito dinheiro comigo, carrego somente o necessário. Neste dia, tirei cópias de algumas matérias e descuidei-me deste detalhe. Ao perceber que o valor estava incompleto, pensei em algumas soluções para o problema.
A primeira, foi olhar para o chão e tentar encontrar alguma moedinha perdida por ali, o que nos dias atuais, está quase impossível! A segunda, foi tentar encontrar algum conhecido e pedir os tão necessários centavos, mas quando precisamos, é quase certo que ninguém irá aparecer. A terceira, foi entrar no ônibus e passar pelo constrangimento de explicar a situação ao trocador, e perguntar se poderia ficar devendo aquela pequena quantia, mas preferi evitar esta cena. A quarta, foi ligar para o meu namorado e pedir uma carona, o que me levaria a ficar pelo menos mais uns quarenta minutos esperando. E a quinta e última opção, foi ir para casa a pé, mesmo por que, a distância não era tão longa, e eu levaria apenas uns quinze minutos para chegar. Bom, não foi a opção mais segura, mas foi a que tomei, afinal, caminhar até que faz bem.

A história poderia até ser cômica, se não nos fizesse pensar sobre o quanto somos frágeis e dependentes do sistema capitalista no qual estamos inseridos. Neste caso, cinco centavos que aparentemente não fazem a diferença, fariam toda a diferença, nesta, e em muitas outras ocasiões! Fiquei pensando naquelas pessoas que passam por situações semelhantes, ou piores, diariamente. A realidade é que, infelizmente, aquele que não possui recursos financeiros, não consegue sobreviver com dignidade na sociedade atual.
Os estabelecimentos comerciais podem sempre oferecer bala como troco, mas o consumidor não pode ficar devendo um centavo que seja.
As tarifas das passagens de ônibus podem ser reajustadas de acordo com os interesses dos empresários do setor, mas o usuário, geralmente, não pode embarcar sem pagar.
Os supostos flanelinhas podem exigir que você pague um trocado, que muitas vezes é previamente estipulado, mas o governo, não perdoa o imposto que você não teve condição de pagar, e também não garante sua segurança e seu direito de ir e vir.
Os boletos bancários de contas como aluguel, água, luz, cartões de crédito, lojas de roupas; podem ser pagos adiantados sem nenhum abatimento, mas se a conta for paga com atraso, os juros jamais serão perdoados.
O departamento de trânsito e as auto-escolas, podem cobrar horrores de taxas para se tirar uma carteira de motorista, e podermos circular livremente com nossos veículos. Já os motoristas, não podem deixar de pagar o seguro obrigatório, o IPVA, e muito menos as temíveis multas.
As empresas de telemarketing e as instituições bancárias, podem cobrar tarifas altíssimas, para oferecer um atendimento que beira ao descaso.
Nas universidades, os alunos têm que pagar em dia suas mensalidades para não terem que passar por longos processos de negociação, que na maioria das vezes, não os beneficiam. Em contrapartida, as escolas podem oferecer um ensino de má qualidade.
As leis progrediram, o país foi democratizado, o povo conquistou o direito do sufrágio universal e a tão sonhada liberdade de expressão. Mas parece que neste mundo, onde o capitalismo impera, continuamos à mercê do antigo coronelismo da república velha, onde quem manda, é quem pode pagar mais!
Continuamos dependentes do governo, das empresas, da justiça, da polícia, da política, e da boa vontade de muita gente. E neste caso, cuidado com o seu precioso dinheiro, pois provavelmente você não será tão bem sucedido, se não o tiver!